
Estamos diante de um assunto que desperta muito a nossa curiosidade por se tratar de coisas que dizem respeito ao futuro dos salvos na eternidade. Esses dois questionamentos são muito comuns na mente daqueles que receberam a salvação oferecida por Jesus. Apesar das Escrituras Sagradas não revelarem muito sobre a vida no além, e no Céu especificamente, ela nos traz algumas informações suficientes para desfazer muitas imaginações e até heresias espalhadas por aí.
- Em Lucas 16: 19 - 31, Jesus contou a história do rico e Lázaro, que parece ser um fato e não uma parábola. Após a morte, ambos tiveram destinos diferentes. O primeiro, por ser avarento, foi para o tormento no Hades e Lázaro, como era piedoso e temente a Deus foi para o paraíso no Seio de Abraão. O rico "levantou os olhos" e conseguiu reconhecer não só a Lázaro, mas também a Abraão; - Em um determinado momento do ministério de Jesus, ele levou Pedro, Tiago e João a um monte e se transfigurou em glória diante deles e "apareceram Moisés e Elias conversando com Ele". Então Pedro empolgado com a experiência sugeriu: "se queres, levantarei aqui três tendas: uma será tua, outra para Moisés e outra para Elias. Aqui vemos claramente que os discípulos não tiveram dificuldade em reconhecer esses grandes homens de Deus que já tinham partido para a eternidade há muito tempo. Isso está registrado em Mateus 17: 1 – 13;
- Ainda em Mateus 8: 11 o Senhor Jesus afirma: "mas eu vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente e assentar-se-ão à mesa com Abraão, Isaque e Jacó, no reino dos céus". Isso só será possível se tivermos a capacidade de identificá-los e temos certeza que Jesus não estava enganado. Indo mais fundo na questão em apreço, encontramos duas teses que tentam explicar o reconhecimento e identificação entre os salvos nos céus. A primeira diz que serão preservados os traços de personalidade das pessoas e não os traços físicos. Para sustentar essa tese usa-se o relato da transfiguração de Jesus. Ora, se Moisés e Elias viveram centenas de anos antes de Pedro e dos outros discípulos, como eles puderam identificá-los? Isso aponta para o reconhecimento do caráter de ambos, tão conhecidos pelo povo israelense – já que foram grandes heróis da nação. A outra corrente de pensamento ensina que as características fisionômicas serão mantidas. Para dar solidez a esse pensamento, utiliza-se o caso do rico e Lázaro. O texto sagrado diz que o rico reconheceu a Lázaro, dando entender que Lázaro preservava sua feição. Argumenta-se ainda que na transfiguração de Jesus e depois da sua ressurreição, mesmo ele estando glorificado, foi reconhecido pelos discípulos. As duas teses parecem ter coerência. Para justificar a primeira podemos usar os seguintes argumentos: se o céu é um lugar de perfeição, como ficará as pessoas que têm algum defeito físico? Haverá então disparidade de cor de pele? E as diferenças de feição serão enormes, pois uns são altos, outros são baixos, uns morrem ainda criança, outros na velhice, etc. E ainda, se a identificação for por meio de traços físicos, haverá confusão, pois existe pessoas muito parecidas com as outras. Então, a personalidade de cada um, que não se assemelha com ninguém e que é única é deverá prevalecer e todos "serão como anjos de deus no céu".
Por outro lado, entendemos pela Palavra de Deus que a fisionomia humana foi deformada por causa do pecado. Então, no céu ela poderá voltar ao seu estado original de perfeição e ser mantida. Podemos levar em consideração ainda que todos os salvos estão em busca da perfeição de caráter. Mas como isso não será possível aqui, ele só conseguirá quando chegar ao céu. Assim, as personalidades de todos serão perfeitas e conseqüentemente iguais. Então o diferencial dos salvos será o corpo, que já estará pleno. Surge uma outra indagação que corrobora o pensamento, se o corpo não fosse tão importante e um diferencial no céu, por que então Cristo ressuscitá-lo de forma incorruptível? Analisando por esse ângulo, a segunda interpretação pesa mais.
Haverá memória da vida terrena?
Em outras passagens, a Bíblia mostra de maneira mais nítida esse ponto. Em Mateus 17:3 entendemos que as almas estão conversando. Já em Apocalipse 6:9-10 encontramos o texto mais esclarecedor dessa discussão, quando diz: “Quando rompeu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que tinham sido mortos por causa da Palavra de Deus e do testemunho que sustentavam. Elas clamavam em alta voz: Até quando, ó Soberano, Santo e Verdadeiro, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?” Observamos aqui que os salvos estão em atividade e conscientes no céu, a ponto de pedirem vingança ao Senhor pelas mortes cruéis que tiveram.
Conservar a memória no céu é uma questão de identidade. Já pensou como seria o céu, se os seus habitantes – os salvos, não soubessem quem são, a sua história, e nem de onde vieram! Pareceria mais um lugar de desmemoriados, débeis mentais e “zumbis”. O Senhor, de maneira nenhuma, irá desprezar a nossa história terrena, a lembrança do nosso esforço para chegarmos lá, provocando um “apagão” na nossa memória. Dessa forma não valorizaríamos a conquista. Pelo contrário, Ele irá é nos recompensar pela renúncia e dedicação em prol do seu reino e da salvação (Lc 6:22-23).
Para entendermos esse outro ângulo da questão, é necessário atentar para a perfeição da dimensão celeste. Lá na glória, a paz, a felicidade e o gozo envolverá o salvo de forma tão intensa e maravilhosa que ele não de afligirá com o que ficou para trás. Este processo que acontecerá é semelhante, porém muito superior e abrangente, ao que sucede ao homem quando experimenta o novo Nascimento. Ele esquece ”as coisas que para trás ficam” e prossegue “para as que estão adiante” (Fp 3:13). Ou seja, ele sabe quem foi, o que fez; mas como sabe que tudo aquilo foi perdoado por Deus e que não mais contribuirá para a conquista de sua salvação, ele, com ajuda do Espírito Santo, se liberta desse passado e põe sua visão no presente e no futuro. “No céu não haverá qualquer privação, sofrimento ou tristeza” (Bíblia de Estudo Pentecostal), isso porque “Deus enxugará toda lágrima” (Ap 7:17).
Escrito por Lucas Bezerra Leal