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domingo, 14 de abril de 2024

Porque não faz sentido afirmar que o Livro de Mórmon é um outro testamento de Jesus Cristo

            O Livro de Mórmon é segundo a tradição SUD um Outro Testamento do Senhor Jesus Cristo. Essa informação se encontra na capa do livro como se vê na imagem abaixo:



               A palavra “testamento” na Bíblia e na Tradição Cristã significa “aliança”, isso remonta às duas alianças relatadas no livro, a primeira de Deus com a nação de Israel. Compreendendo os livros do Antigo Testamento, e a segunda com toda a humanidade, compreendendo os do Novo Testamento. O acontecimento que marca a divisão entre as duas partes do livro é o ministério de Jesus Cristo, tendo sido o Novo Testamento escrito pelos discípulos de Jesus e o Antigo Testamento pelos profetas e escribas da religião israelita, ou judaica. Claramente na tradição SUD o livro de Mórmon tem a função de ser uma espécie de Mais Novo Testamento, como se ele estivesse ali depois do livro de apocalipse dentre os livros da própria Bíblia Sagrada. Embora os SUD enfatizem bastante que o livro de Mórmon não é um outra Bíblia, eles tem em teoria o mesmo grau de relevância1, embora como podemos observar numa conversa com qualquer SUD o livro de Mórmon é tratado entre eles como mais importante que a Bíblia por ser “o livro mais verdadeiro na face da Terra”.. Observe por exemplo esta citação de Joseph Smith Jr sobre o livro:

“Eu disse aos irmãos que o Livro de Mórmon era o mais correto de todos os livros da Terra e a pedra fundamental de nossa religião; e que seguindo seus preceitos o homem se aproximaria mais de Deus do que seguindo os de qualquer outro livro.”2

            Como já introduzi brevemente o grau de importância do livro de Mórmon e como funciona a divisão da Bíblia Sagrada em dois testamentos vou agora trazer o meu argumento de porque não faz sentido chamar qualquer outro livro sagrado de um outro testamento de Jesus Cristo dentro da tradição cristã. O termo testamento usado por Joseph Smith Jr parece ter sido infantilmente usado como sinônimo de testemunho, ou testificação, significado que até faria sentido em qualquer outro contexto3, isso porque a palavra testamento pode ser usada como sinônimo de declaração ou documento, apesar de isso não ser comum, mas não faz sentido no contexto da tradição teológica cristã, porque como já mencionado acima a acepção da palavra na tradição cristã remonta a aliança, concerto, de Deus com seu povo.

            O Novo Testamento é uma espécie de releitura no Antigo Testamento trazendo à luz a intenção do Deus de Israel, ou dos judeus, de ser o Deus de todos os povos da Terra. Isso é bastante claro nas páginas do Antigo Testamento, mas o povo da antiga aliança não compreendia isso na sua totalidade, mesmo os discípulos de Jesus tiveram dificuldade de compreender como pessoas de outras nações iriam se tornar “israelitas” e detentoras das mesmas bençãos dadas a Abraão e seus descendentes. Um ótimo episódio no Novo Testamento para compreender isso é o encontro de Jesus Cristo com a mulher samaritana junto ao poço, relatado em João 4-1-424, onde a mulher pergunta a Jesus onde é que devemos adorar a Deus, se no monte, costume samaritano, ou no templo em Jerusalém, costume judeu, mas Jesus lhe dá uma resposta impressionante:

"Mulher, creia no que eu digo: chegará o tempo em que ninguém vai adorar a Deus nem neste monte nem em Jerusalém. Vocês, samaritanos, não sabem o que adoram, mas nós sabemos o que adoramos porque a salvação vem dos judeus. Mas virá o tempo, e, de fato, já chegou, em que os verdadeiros adoradores vão adorar o Pai em espírito e em verdade. Pois são esses que o Pai quer que o adorem. Deus é Espírito, e por isso os que o adoram devem adorá-lo em espírito e em verdade."

              Jesus estava claramente afirmando que a adoração ao Deus de Israel não se daria no templo, ou no monte, ou seja, seguindo os preceitos da religião dos judeus ou dos samaritanos, mas um novo tempo e que Deus seria adorado por todas as nações estava chegando, onde os padrões de adoração vigentes, delimitados pela religião israelita, seriam substituídos por algo mais abrangente, universal. Ali há uma clara referência ao derramamento do Espírito Santo sobre toda carne, como descrito em Joel 25, e cumprido no dia de pentecostes após a morte e ressurreição de Jesus6, naquele episódio pessoas de todas as nações ouviram os discípulos falarem da grandeza de Deus em seus próprios idiomas e a semente do Evangelho de Jesus começou a se espalhar pelo mundo inteiro.

        Em virtude da necessidade de alcançar a todos os povos Cristo literalmente fez um novo testamento, ou aliança, com sua morte, sendo essa aliança nova e eterna, não sendo necessária nenhuma outra, ou seja, não sendo necessário nenhum outro testamento além do que já existe por meio de Cristo. Nas palavras do autor da epístola aos Hebreus 9:15-227:

"Portanto, é Cristo quem consegue fazer uma nova aliança, para que os que foram chamados por Deus possam receber as bênçãos eternas que o próprio Deus prometeu. Isso pode ser feito porque houve uma morte que livrou as pessoas dos pecados que praticaram enquanto a primeira aliança estava em vigor. Onde há um testamento , é necessário provar que a pessoa que o fez já morreu. Pois o testamento não vale nada enquanto estiver vivo quem o fez; só depois da morte dessa pessoa é que o testamento tem valor. É por isso que a primeira aliança entrou em vigor somente com o uso do sangue de animais. Em primeiro lugar, Moisés anunciou ao povo todos os mandamentos conforme estavam na lei. Depois pegou o sangue dos bezerros e dos bodes, misturou com água e borrifou o livro da lei e todo o povo, usando lã tingida de vermelho e hissopo. Então disse: "Este é o sangue que sela a aliança, que Deus mandou vocês obedecerem." Da mesma forma Moisés também borrifou sangue sobre a Tenda e sobre todos os objetos usados na adoração. De fato, de acordo com a lei, quase tudo é purificado com sangue. E, não havendo derramamento de sangue, não há perdão de pecados."

        O Livro de Mórmon é muito querido pelos membros da Igreja SUD. Minha intenção com este estudo não é menosprezar ou ofender a fé de nenhum de seus membros, mas alertar a quem esteja buscando respaldo bíblico para esse livro de que ele não é legítimo do ponto de vista cristão, ou bíblico. Não faz o menor sentido o Livro de Mórmon ser um outro testamento de Jesus Cristo.

Referências:

1 – Perguntas Frequentes Sobre O Livro de Mórmon. Disponível em: <https://www.churchofjesuschrist.org/study/liahona/2011/10/common-questions-about-the-book-of-mormon?lang=por#title1>. Acesso em 14 de Abril de 2024.

2 – Introdução ao Livro de Mórmon. Disponível em: <https://www.churchofjesuschrist.org/study/scriptures/bofm/introduction?lang=por&id=6#p6>. Acesso em 14 de Abril de 2024.

3 – Definições de Testamento. Dicionário Priberam. Disponível em: <https://dicionario.priberam.org/testamento>. Acesso em 14 de Abril de 2024.

4 – Jesus e a mulher samaritana. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/ntlh/jo/4/1-42> Acesso em: 14 de Abril de 2024.

5 – O Dia do Senhor. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/ntlh/jl/2> Acesso em 14/ de Abril de 2024.

6 - A vinda do Espírito Santo. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/ntlh/atos/2>. Acesso em 14 de Abril de 2024.

7 – A morte de Cristo e a nova aliança. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/ntlh/hb/9/15-22>. Acesso em 14 de Abril de 2024

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